Laís Viegas de Valenzuela

As desvantagens dessa bela língua

junho 16, 2025 | by ipsislitteris.com

Nem sei como começar! É mesmo difícil falar sobre uma pessoa que a gente reputa como um dos maiores compositores de todos os tempos e todos os lugares, uma pessoa que tem uma capacidade crítica impressionante, uma sensibilidade emocional, e a habilidade e a propriedade de traduzir tudo isso em letras magníficas, com o emprego de palavras eruditas ou coloquiais, até banais mesmo, com um lugar de destaque e uma precisão semântica adoráveis, como nunca vi ninguém mais fazer. Eu me refiro ao Chico Buarque de Holanda, a quem, aliás, já me referi várias vezes, nos meus escritos. As letras dele contêm aquela doçura e aquela naturalidade de quem está só brincando com as palavras, sem pretender fazer das suas letras nem exemplos de erudição, nem chegarem a ser premiadas com os “nobéis” de um estrato cultural superior, embora tenha a capacidade de pertencer facilmente a ele.

É um pouco contraditória a minha apreciação sobre a língua que falamos: se por um lado, eu tenho o maior orgulho de fazer parte do povo brasileiro que fala e escreve (bem) essa língua, de integrar uma minoria privilegiada, que pertence a uma elite (minoritária, como todas as elites) linguística, de não pertencer à primeira ou à segunda língua mais faladas no mundo inteiro, acho genial a gente estar no grupo seleto de pessoas que falam a língua portuguesa, embora – por outro lado – reconheça que essa nossa exclusividade constitui um entrave linguístico que impede ou pelo menos dificulta às nossas expressões artístico-culturais figurar entre todas as manifestações linguísticas do globo. Estou certa de que, se o português fosse uma língua mais “popularizada” no mundo, o Chico – e talvez outros autores brasileiros – já teriam recebido essas premiações que vemos distribuídas por outros intelectuais de outras línguas, tais como o Bob Dylan. Sinto que os nossos escritores não têm merecido o reconhecimento que seria desejável, se falassem inglês, francês, italiano ou espanhol. E isso me entristece, porque me parece uma injustiça. Dado que não nos entendem, não nos reconhecem! 

Comecei falando do Chico Buarque, e depois mudei para outro tema: é que o Chico está invariavelmente vinculado ao português, esta bela, difícil e culta língua (aqui, eu discordo do nosso Olavo Bilac), entre as ocidentais! Nossas complexidades, nossa pronúncia e nossas particularidades exóticas nos impedem de estar na popularidade da maioria das línguas neolatinas, como o espanhol, por exemplo.

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