Laís Viegas de Valenzuela

A liberdade da velhice

agosto 15, 2023 | by ipsislitteris.com

Ontem, vendo o programa “Saia Justa” (que eu adoro!), e que é comandado pela Astrid Fontenelle, e no qual participam outras quatro mulheres, ouvi uma delas dizer, em um tom meio queixoso, que tinha problemas de insônia, que dormia pouco mais de 2 horas por dia, que precisava tomar remédio para dormir etc. É verdade que ela é uma moça jovem, que tem uma filhinha recém-nascida ou ainda muito pequena, é advogada e tem uma intensa vida de trabalho – como ela diz, é muito produtiva.

Essa é uma situação muito diferente da minha, que tenho 83 anos, já trabalhei uns 60 anos da minha vida, pois comecei aos 22 ou 23 anos, na SUDENE, onde passei 20 anos trabalhando, quando pedi demissão, para vir morar no México: me casei com um mexicano e, naturalmente, vim morar aqui com ele, o que tenho feito durante pouco menos de 40 anos da minha existência.

Na verdade, o que eu queria comentar mesmo é que, pintando um quadro da minha vida atual, sou uma pessoa dona da minha vida, não tenho ninguém que me fiscalize, ou reclame do que eu faço ou deixo de fazer, do quanto eu durmo (das 11 da noite até às 8 ou 9 da manhã do dia seguinte). Até parece que eu vivo sozinha, que não tenho marido, mas acontece que não é assim: tenho marido, sim, um mexicano que vive comigo desde que nos casamos, mas não reclama muito de mim. É que já não temos filhos pequenos (são 4, todos autônomos, isto é: cuidam das suas vidas). Não tenho motivos para fazer o trabalho doméstico, posso ler, dormir ou ver televisão à hora que quero e bem entendo, e até à hora que eu quiser, se não me der sono; escrever no computador e ver meu celular, quando me der vontade. Quero dizer que não tenho obrigações para com o trabalho de casa, porque temos uma pessoa contratada para fazer todo o trabalho doméstico, então eu não tenho a necessidade de fazer nada. Faço, quando quero, algum bolo, doce, pudim, manjar, ou algum prato especial de comida, por diletantismo.

Eu me dei essa vida, pois escolhi como marido (aliás, ele nem foi propriamente escolhido: apareceu na minha vida, casualmente, em um seminário de trabalho, gostou de mim e eu dele, nos apaixonamos e nos casamos; ainda tive um filho com ele, o último da “produção”); ele é um homem bom, leal e honesto, inteligente e culto (ele é advogado), de sentimentos e procedência nobres. Além disso, vivemos como um casal que se ama, sempre fomos leais um ao outro, vivo com ele porque gosto, não preciso me atar a uma pessoa por dependência de nenhum tipo: nem emocional nem financeira, nem física. Explico isso: não preciso dele para me dar segurança emocional, tenho o meu próprio dinheiro, fruto de tantos anos de trabalho e poupança, nem sofro de nenhuma deficiência física nem mental, sou uma mulher inteira, com alguns achaques próprios da minha idade cronológica. Um forte componente do nosso amor é a admiração recíproca, que eu acho fundamental no casamento, e que nós alimentamos um pelo outro, e talvez seja o segredo da longevidade da nossa duração. Sou também inteligente, relativamente culta e preparada (cursei a universidade, onde me diplomei aos 22 anos, tendo estudado Letras Neolatinas). Moramos em uma casa grande e ótima, com todo tipo de comodidade, ou pelo menos o que para nós é suficiente.

Tudo isso que eu disse é para explicar por que entendo que a jovem da “Saia Justa”, por sua idade e sua etapa de vida, ainda tenha questões que requeiram tanto as suas energias, enquanto que eu, também devido a essas mesmas características (idade e etapa de vida), tenho uma vida tão livre de obrigações e tão cheia de liberdade, e cheia daquela qualidade de vida que é desejável para todo mundo!   

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