Eu sei que não escrevo de modo interessante. Escrevo muito bem, gramaticalmente falando. Conheço todas as regras de gramática e outros aspectos da língua: tenho um vocabulário muito amplo, seja de palavras difíceis ou fáceis, conheço as regras de gramática e pontuação, e as aplico com muita facilidade, sejam elas obrigatórias ou opcionais. Por ter um amplo vocabulário, escrevo com muita propriedade, isto é, sei o uso da palavra adequada para o significado que o contexto pede. Conheço muitas expressões latinas e o seu emprego correto. A razão de tudo isso é sempre ter tido bons professores, que me ajudaram a cultivar e aperfeiçoar a língua portuguesa, tenham sido eles na Faculdade de Letras ou mesmo desde o científico, onde sempre tive excelentes professores. Ou seja, tenho quase todas as ferramentas necessárias para escrever bem: a correção gramatical, acentuação gráfica, propriedade de linguagem, pontuação e vocabulário, mas reconheço que a minha escrita é muito séria, certa demais. Eu gostaria de escrever com muita correção, e todos esses requisitos que a escrita nos impõe, mas o que eu preferiria mesmo era escrever coisas interessantes, como a Martha Medeiros, por exemplo. Ela tem muita graça para escrever, e o faz com várias dessas características que eu tenho, que sou mais para o Leandro Karnal, sem ter a ironia e o sarcasmo que ele domina tão à vontade! Sei que não tenho a sua cultura, que é o que lhe dá muita liberdade para falar, deslizando como um peixe num rio de águas claras e transparentes. É que eu sou mesmo uma pessoa sem graça!
Não me acho uma pessoa egoísta, mas quase sempre só gosto e só sei falar sobre mim. Mas, a quem interessa ler sobre a minha vida? É verdade que eu tenho uma vida interessante, cheia de altos e baixos, de experiências que eu me permito ter, de acontecimentos fortuitos que me deixaram muito abalada, de sucessos profissionais alcançados e outros na vida pessoal, porque eu me atrevi a vivê-los, sem medo de fracassar. Mas eu gostaria de escrever de modo divertido e atraente, para que os meus leitores pudessem dizer: que artigo interessante! e quisessem repetir a leitura dos meus escritos, por serem cativantes, cheios de novos campos de interesse ou de exemplos em que as pessoas pudessem se espelhar ou copiar. Enquanto isso, vou escrevendo, como uma forma de extravasar tudo o que tenho a dizer, mesmo que não seja do interesse dos outros.
Por que é que eu sempre teria que depender de uma retroalimentação, como se fosse alguma coisa indispensável para eu prosseguir? Acho que porque, como disse o Ayres Britto, de quem já falei, que o bom escritor não é aquele que sabe escrever, mas o que tem muitos leitores. Então, de que adianta escrever bem, se ninguém me lê?
Melhor seria, talvez, não possuir tanta correção na língua escrita, e ter muita graça ao dizer as coisas!
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