Laís Viegas de Valenzuela

Tudo começou com a Frida

abril 13, 2024 | by ipsislitteris.com

Achei bem bonito o que li no Facebook, que, segundo essa rede social, a Frida Kahlo dizia para seu marido Diego Rivera – mas não palavras invejáveis (esclareço: para mim. Quem sou eu para contrariar, sem particularizar, as palavras de uma artista que o mundo todo elogia e admira?) Era algo assim: ela dizia que não pedia que ele a beijasse, nem que lhe dissesse que era bonita, nem que a amava (que ela não queria precisar pedir essas coisas a ele!). Talvez ele não dissesse para ela, com palavras, que ela era bonita (dificilmente, poderia) que gostava dela, talvez não a beijasse, como toda mulher quer que seu homem faça (isso é o que ela diz que nunca lhe perguntou se ele fazia ou pedia que ele fizesse). O que eu penso é que nem toda mulher precisa estar ouvindo, a cada instante (ou mesmo, sem tanta frequência) que é amada, desejada, bonita, inteligente, nem que o homem sabe apreciar todas as qualidades que ela possui, nem que ele a beije. O que ela também tem é que saber perceber, intuir, sentir nas condutas ou nos gestos dele, que ela é a mulher da vida dele. Às vezes, o homem não tem que dizer “eu te amo”, “você é linda”, “eu adoro você” (“eles” nem sempre foram ensinados, em casa, a dizer essas coisas, ou às vezes as condições físicas da mulher nem merecem mesmo tanto elogio! ou eles são introvertidos, e sentem, mas não dizem, porque lhes custa muito esforço dizerem!), para que a mulher perceba isso. No meu caso, eu prefiro sentir, perceber todos esses sinais, para saber que ele me ama; tenho todos os indícios disso, sem que tenham que ser expressos verbalmente; pode mesmo ser apenas indicado (aliás, é o que eu prefiro) nos gestos, nas atitudes, nos comportamentos, como por exemplo: trazer a pomada preferida dele, para passar nas minhas costas ou onde for, quando eu sinto qualquer dor; gravar os programas de que eu gosto na televisão, sem que eu precise lhe pedir. Trazer uma almofadinha quente para colocar em algum lugar onde também sinto dor, com o fim de melhorar o incômodo. Preocupar-se se eu sinto frio ou calor, para tornar o clima físico mais agradável, e para isso ligar o ar condicionado ou trazer o cobertor para me proteger. Saber que eu gosto de flores, e por isso me trazer rosas da rua. Na verdade, ele tem tantos gestos amáveis e nem tão perceptíveis assim, que eu às vezes até me esqueço deles. Mas, também, por exemplo (agora mesmo me esqueci!) – deixo pra enumerar de outra vez. Ah! Acabo de me lembrar: ele me “ajuda” com muitas das “atividades domésticas”, sem que eu lhe peça nem lembre: lava e enxágua a louça suja para colocar na máquina de lavar pratos; guarda a louça limpa, quando a máquina termina de lavar; arruma a cama, enquanto eu estou na cozinha terminando de lavar o que a máquina não lava, e tem que ser feito à mão. Quando a empregada não está, ele arruma a mesa para o almoço ou o café da manhã: coloca os jogos americanos na mesa, pratos e copos, xícaras, o queijo saído do refrigerador para poder alcançar uma temperatura mais agradável de comer. Corta o pão que sobrou do dia anterior, passa manteiga e mete no forno, para dourar e esquentar; corta a fruta que vamos comer de manhã, no café. Corta o queijo de melhor qualidade (que é quase sempre mais duro), para mim. E faz muitas coisas dessas, sem que eu precise pedir. Eu também não fico “só de camarote”, vendo o que ele faz: também contribuo, senão isso seria convertê-lo em escravo.  Ele me leva a todos os médicos e hospitais a que necessito ir (agora, que estou em uma uma fase em que tenho precisado visitar alguns profissionais de saúde!). É claro que eu também devo retribuir todo esse carinho, com a minha forma de expressar-me e mostrar pra ele que eu o quero e desejo, com toda a minha alma e o coração, sem que a todo momento eu lhe esteja dizendo isso com palavras. Ele também mantém a nossa casa muito bem acondicionada, com tudo funcionando; paga o jardineiro, a empregada, o encanador, o eletricista, de forma a manter sempre a casa funcionando bem. Eu sei que isso não é especialmente para mim: ele também gosta de morar num lugar organizado e arrumado, como eu arrumo e decoro, o que também não faço só para mim. Ele adora que seus amigos venham aqui e achem a casa maravilhosa, bem decorada, agradável e aconchegante, como eu a mantenho. Por exemplo, ontem ele convidou uns amigos (dele) para almoçarem aqui em casa, e para isso,  fiz um sorvete, um bolo, coloquei pães de queijo no forno para esquentar, arrumei a mesa com uma toalha bonita e elegante, com pratos combinando, copos, taças e guardanapos, recebendo-os também com toda a minha disposição. Muita gente que nos vem visitar não apenas diz, mas às vezes até expressa, só com um olhar de admiração, a sua aprovação para a casa! E ele fica muito satisfeito com isso! Adora todos os arranjos que eu faço, mesmo que sejam repetitivos, desde anos de uso! Aliás, nunca são tão repetitivos, porque eu sempre mudo alguma coisa, e jamais consigo repetir exatamente o que fiz nos anos anteriores. Estou-me referindo especificamente aos adornos de Natal, que de alguma forma, sempre faço “novos” (com o material usado, que já tenho); mas ele também gosta da decoração habitual da casa, feita com o meu espírito inovador, que sempre está inventando algo para tornar a nossa casa mais aconchegante e agradável, e mudar um pouco a maneira em que se vê sempre, isto é, estar de vez em quando em uma casa nova. Ele sabe apreciar a minha capacidade de aproveitar as coisas “velhas” e torná-las novas, sem ter que comprar novas coisas: já aproveitei os móveis do nosso quarto, um móvel da sala de jantar, um pequeno armário, um baú antigo e uma poltrona; tudo isso foi “herdado” da casa dos seus pais, e coisas que o resto dos seus irmãos não queriam. Chamo um marceneiro, digo como quero reformar, desenho (à minha maneira), explico como quero que fique e escolho a cor. O mesmo faço com os nossos móveis: mando reformar, mudar de estilo, de cor, do tipo de tecido, e realmente faço uma transformação, de forma que ninguém reconhece neles as coisas antigas.

Acho que somos um casal que se ama, se respeita e se entende: nos sentamos juntos para ver na televisão os programas de que ambos gostamos, sempre temos algum tema de conversa ou assunto para discutir, sem ter que estar brigando por isso, apesar da nossa já longa vida conjugal. E eu me sinto feliz com essas demonstrações e com esse estilo não verbalizado de ele me dizer “eu te amo”, assim como ele se satisfaz com a minha conduta e o meu proceder, no significado de, também, dizer-lhe: “eu te amo!”

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