Eu me considero uma pessoa abençoada; tenho 4 filhos maravilhosos, sadios, normais e inteligentes, ótimos para mim: agora nesta temporada de pandemia, de isolamento social e cuidado com o vírus do Corona, a Cláudia faz para mim todas as compras de supermercado e Costco, traz aqui à casa, já esterilizadas, retira dinheiro no banco, quando a gente precisa (claro que transferimos imediatamente para ela o valor dessas despesas), pede à Amazon todas as coisas de que eu preciso etc. Tudo isso é para que não tenhamos que sair e nos misturemos com as pessoas, dado que estamos no grupo de alto risco. A Renata, apesar de não me fazer assim favores especiais, porque não tem oportunidade, quando vem aqui sempre faz bolos ou biscoitos para a gente, telefona sempre para saber como estamos; quando é possível, vem aqui a nossa casa para nos visitar. A Andréa me ajuda em todos os meus “apertos” da Internet, organiza com toda a boa vontade e habilidade os meus arquivos de cobrança das traduções, me ensina como fazer mais rapidamente as coisas que eu faço com dificuldade, me atende a qualquer hora ou dia, sem restrições, abre o computador dela para comunicar-se com o meu, e assim vai organizando as minhas pequenas desordens informáticas. O Beto conseguiu organizar a minha página, deu o seu nome para ficar como administrador, e me resolve as broncas que aparecem com relação a isso; nem me telefona com tanta frequência, isto é, nunca me telefona, mas a mulher dele me liga, dá notícias dele e o trata muito bem, assim como nos trata. Também, é uma menina ótima, educada e simpática, sempre de bom humor, tira fotos e manda para nós, enfim é um amor, e eu a quero muito.
O meu marido é ótimo para mim; moramos numa casa muito boa, que ele mantém de tudo; paga todos os serviços relativos a ela: água, luz, telefone, televisão, TV a cabo, gás, imposto predial, quota de manutenção do loteamento onde nós moramos, paga todos os gastos da alimentação entregue em casa, paga a empregada que nós temos, com todos os benefícios a que ela tem direito: férias, 13º salário; paga o jardineiro que cuida do jardim, paga todos os consertos e manutenção adicionais de que a casa precisa: pedreiro, eletricista, encanador, lavagem de vidros, consertos em geral; mas não só isso: nossa alimentação é muito cuidada, de boa qualidade, variada, ótima enfim.
E o mais importante é como ele me trata (porque, se às vezes faz alguma “impertinência”, eu lhe reclamo e ele imediatamente corrige sua conduta); temos um ótimo relacionamento de casal: ele me cuida e eu cuido dele, fazemos muitas atividades juntos: bolo, biscoitos, exercício físico, exercícios de lógica, palavras cruzadas, quebra-cabeças, vemos séries e filmes, programas e noticiários de televisão, jogos de mesa, atividades sexuais, claro!. Ele me ajuda em todas as atividades domésticas, quando a empregada se ausenta (menos lavar a louça e panelas): põe e tira a mesa para o café da manhã, para o almoço, enxagua todos os pratos, xícaras, copos e talheres para colocar na máquina de lavar louça, guarda a louça lavada, arruma a cama, põe as almofadas (eu termino de “decorar”), guarda sua roupa e sapatos em uso. Abre a torneira de água quente quando eu vou tomar banho, leva o cobertor para mim, onde eu estiver, quando está fazendo frio, enfim, é um marido muito cuidadoso!
Acho difícil uma mulher ter tantos privilégios quanto eu tenho: moro numa casa boa como nunca morei na vida, em casas ou apartamentos nem parecidos, de tamanho ou qualidade: é uma casa grande, em ótimo estado de conservação, porque consertamos imediatamente o que se deteriora, em um lugar razoável (digo assim, porque não moramos em um bairro muito elegante, mas – em compensação – é um loteamento fechado, com vigilância policial, claro que em troca de uma taxa de manutenção), bem arrumada e decorada (disso eu me encarrego), muito iluminada, com todo o conforto possível, tudo funciona, tem muitos banheiros, todos recentemente remodelados e em perfeito funcionamento.
Tenho tudo: vestidos, calças, blusas, sapatos, bolsas, abrigos, casacos, cintos, joias, bijuterias (colares, brincos, anéis, pulseiras), e já não preciso comprar nada. Nossa casa tem: 5 quartos de dormir, uma sala de televisão, um escritório, cozinha, sala de estar, sala de jantar, 5 banheiros, quarto de lavar roupa, quarto de empregada com banheiro, terraço, dois pequenos jardins, garagem e dois quartinhos para guardar coisas diversas. Todos os quartos e salas, assim como a sala de televisão, escritório e cozinha, são equipados com todo o necessário; temos 5 aparelhos de televisão, lavadora e secadora de roupas, batedeiras, processador, liquidificadores, ferro elétrico de passar, ferro de vapor, fornos elétricos, forno de microondas, sanduicheira, espremedor de laranjas, centrífuga, máquina de pão, sorveteira, cafeteiras elétricas, máquina para fatiar, faca elétrica, fritadora elétrica, frigideira elétrica, um mundo de panelas, pratos, pratinhos, xícaras, copos e taças, jarras, outro universo de formas para bolo, vários faqueiros, refrigerador e fogão, e todos os adornos da casa: jarros, castiçais, quebra-luzes, porta retratos, pratos, bandejas, até um termômetro para carne (como diz, com certo escárnio, meu filho mais novo: “coisas absolutamente indispensáveis“); quero dizer: todas as coisas que representam um grande conforto material, e até supérfluo!. Faltava só mencionar os computadores, tablets e celulares, e os aparelhos telefônicos para atender a essa casa tão grande, assim como dois carros grandes e bons, não excepcionalmente novos. Preciso só dizer que todos os adornos da casa ficam por minha conta: compro o que eu gosto, com meu dinheiro, assim como meus computadores e celulares. Quem não ia sentir culpa, tendo tanto cacareco, tanta coisa supérflua, quando no Brasil a maioria das pessoas pobres…?
Mas, toda essa minha enumeração não é feita como uma demonstração de opulência nem de riqueza, mas como uma prova do que afirmei acima, quando disse que dificilmente haverá alguém com tantos privilégios como eu (deve haver gente que tem muito mais do que isso que enumerei, mas não reconhece como excesso o que eu considero: se eu dividisse, com quem nada tem, a metade do que tenho, acho que nada ia me fazer falta), e só representa uma vida que eu tenho que agradecer, além de significar toda uma vida juntos, quando a gente vai comprando coisas, às vezes substituindo e resulta nessa acumulação. A quem tenho que agradecer? À vida mesma, ao meu trabalho e ao do meu marido, como também a meus filhos, que me nos ajudam a proporcionar tudo isso e vão continuar fazendo, estou certa! Quero quer dizer apenas que vão continuar me apoiando e propiciando que eu continue vivendo assim!
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