Laís Viegas de Valenzuela

Insistência

junho 5, 2025 | by ipsislitteris.com

Estou sentindo falta de viver mais! Tolice minha, porque já vivi tanto, mas parece que ainda não é suficiente! Por que será isso? Nunca tive vontade de morrer, e agora parece que menos, porque estou vivendo uma fase tão boa na vida, que não quero me despedir. Acho que vida é algo assim como dinheiro: minha mãe dizia que parece que a vontade de ter nunca enche (ou era algo parecido); acho que a vida nunca é suficiente, a gente sempre quer mais. Mas, espero que eu não seja dessas pessoas que se agarram desesperadamente à vida, que nunca querem morrer, porque tudo deve ter um fim. E a vida, por mais agradável que seja, também tem seu fim, como tudo que começa. Agora estou sentindo isso, parece. Desejo não sentir revolta pela ida, pelo desaparecimento deste mundo, agora que já me aproximo do fim. Ainda sinto tanta capacidade, tanta potência dentro de mim! Só sinto não haver deixado nenhum trabalho digno de … de que? Dizem que o homem (e a mulher também, principalmente) tem que plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Eu já fiz tudo isso (quando era pequena, plantei árvores na escola), tive 6 filhos, escrevi 4 livros (um não publicado – o dicionário). O que me falta fazer mais na vida? Acho que nada, mas parece que ainda me falta, porque este protesto, esta resistência contra o fim da vida me faz levar a não querer morrer. Será que todo mundo sente essa – não digo que seja indignação contra a morte, não – é uma espécie de – só me vem à mente protesto – uma indisposição para morrer. Mas quem tem disposição para morrer? Acho que a gente tem disposição para viver, mas não pra ir embora deste mundo, que é tão bom de ser vivido! Espero que Deus me dê resignação, aceitação, conformação, essas coisas! Porque é muito desesperante – deve ser – a pessoa estar às portas da morte e não querer, estar sempre inconformada, sem resignação, sem se acolher aos desígnios do mais além! O que eu ainda espero fazer nesta vida? Nem tenho mais o que dizer, o que fazer, a não ser atividades comuns, nada de tão extraordinário! Já escrevi tudo o que tinha que escrever, todas as histórias que já tive que contar, todos os sonhos que já precisei e quis sonhar. Todas as aventuras de amor que já quis ter. Já dei todos os passos atrevidos que ousei dar na vida, já vivi todas as histórias que já pude viver. Acho que nada mais me resta, já vivi demais, e agora quero me comportar como se tivesse ainda muito tempo pela frente.

Essa inconformidade, essa falta de resignação e aceitação, não devem ser normais em uma pessoa da minha idade e situação. Vejo que a natureza, a todo momento, está empregando os recursos que tem para exercer o seu direito de abreviar a vida humana, de selecionar naturalmente as pessoas que já devem abandonar esta existência, e isso tem base no tempo de permanência no mundo, na perenidade dos seus momentos na vida. Por que insistir em querer ficar tanto aqui?   Outro dia continuo, quando houver mais inspiração adicional!

Acho que esse apego quase desesperado a esta existência se deve à boa vida que eu levo. Quem quer deixar uma situação boa? Só louco mesmo!  

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