Laís Viegas de Valenzuela

Como é gostoso falar bem!

agosto 23, 2023 | by ipsislitteris.com

Com isso, o que eu quero dizer é: que coisa boa e bonita é falar – e escrever – certo, corretamente! Então, vamos tratar aqui de corrigir os erros mais comumente encontrados, quer seja nas postagens do facebook ,ou nos recados escritos mandados para amigos, nas mensagens da Internet ou até mesmo em despachos feitos entre funcionários do serviço público, atestados médicos,  editais de jornais ou qualquer outro tipo de mensagem escrita. 

Reconhecemos que no nosso país há pessoas de pouca ou nenhuma instrução, principalmente por falta de oportunidade de terem frequentado a escola, devido a precárias condições de vida – na maioria, econômicas e sociais, de distância entre os lugares de moradia e as escolas, ou mesmo a falta de escolas públicas etc.

Agora, é mais desanimador ainda constatar que esses erros não se dão apenas entre esses indivíduos que não tiveram oportunidade de estudar, mas também entre pessoas de relativamente bom nível de escolaridade, parecendo então que falar e escrever bem se destina apenas aos especialistas de língua e linguagem (professores e estudiosos desse campo), pois esses desacertos são constatados entre os mais diversos níveis de instrução.

  1. Por exemplo: é comum a confusão no uso de certos verbos, entre o modo infinitivo deles e seu presente do indicativo.

Exemplificando, a gente encontra com certa frequência frases erradas, como:  Ele estar estudando engenharia. Nós gostamos de lê bons livros. As formas corretas dessas frases são:  Ele está estudando engenharia. Nós gostamos de ler bons livros. No primeiro caso, se trata do emprego correto do verbo estar no presente do indicativo (é uma forma conjugada do verbo), e no segundo é usado o verbo ler no modo infinitivo – que é o próprio nome do verbo.

Estar e ler são muito usados em locuções verbais ou integrando os tempos compostos dos verbos, isto é, aquelas expressões compostas por dois ou mais tempos ou modos de verbos:

quero estar lá às 10 horas

vou estar ocupada todo o dia

gosto de estar sozinha em casa

procuro estar sempre atualizada com as notícias

ele quer estar à frente de tudo

devemos estar prontos para qualquer emergência

elas gostam de estar sempre na moda

é bom estar com todo o trabalho feito

vamos estar fora de casa desde as 11 horas

não vamos estar em casa amanhã (neste caso, integrando o futuro do presente, o mesmo que estaremos).

Nestes casos, o verbo deve ser conjugado no presente do indicativo:  ele está estudando muito para suas provas

ela não está em casa hoje

está chovendo muito

a loja ainda não está aberta

meu almoço não está pronto

sua mãe está em casa? 

O cachorro está dormindo

a roseira está florida

ela não vai á aula porque está doente

o porteiro já está em seu lugar

Esses são apenas exemplos destinados a mostrar às pessoas a forma correta de usar o verbo conjugado, nos casos em que ele se diferencia do verbo no infinitivo, como feito no parágrafo anterior. Claro que não se pode esgotar, num caso e no outro, o uso de todos os verbos existentes, o que não é o papel destes escritos, mas pensamos que martelar um pouco a cabeça com seu emprego certo vai servir, por efeito de repetição, para a aprendizagem precisa dessas formas de uso.   

  • O mesmo se aplica para o verbo ler; aqui, exemplificaremos seu uso correto no infinitivo:

Gosto de ler bons livros

quero ler todos os livros que puder

elas gostam de ler revistas de moda

é bom ler em voz alta

é útil ler para crianças ou idosos

preciso ler muito para me ilustrar

quero ler 15 livros daqui até o fim do ano

eu gostaria de ler pelos menos 4 livros por mês

quero ler pelo menos alguns dos autores russos

vamos ler todos os dias durante uma hora

  • Em outros casos, usamos o verbo conjugado, no presente do indicativo, para expressar uma ação que costumamos desempenhar: 

Ele lê todos os dias durante duas horas

ela lê todos os livros que a professora manda

você lê muito

Francisco lê todas as notícias dos jornais

Marcelo lê todo tipo de literatura

Eugênio só lê livros de ficção científica

Matias não lê livros estrangeiros

Glória só lê livros de autoras femininas

Alice lê tudo quanto lhe cai nas mãos

Teresa lê revistas de moda e decoração.

Mesmo não esgotando todos os casos possíveis, a quantidade de exemplos parece suficiente para reafirmar na cabeça do leitor o uso correto de estar e está, ler e lê, de forma que oriente esses leitores a usarem corretamente os casos pretendidos, e também entendam e ampliem, por imitação, esse emprego para os demais verbos.

  • Outro erro de alta incidência se refere ao uso da crase, que às vezes aparece onde não deveria estar, e outras vezes está ausente onde é obrigatória a sua presença:   

Um erro encontrado com muita frequência é: O curso será de 8 à 11h, o seminário será daqui à 2 semanas, o torneio vai ser de segunda à sexta, quando o correto é:

O curso será de 8 a 11h

o seminário será daqui a 2 semanas

o torneio vai ser de segunda a sexta

Pode-se mudar a redação e usar:  O curso será das 8h às 11h, o torneio vai ser das segundas às sextas, quando então as frases estarão corretas – usando a crase diante de palavras femininas, mas sempre guardando uma coerência no emprego: se não usar o artigo feminino na frase anterior, não use a crase na oração seguinte; se adotar o artigo feminino, use obrigatoriamente a crase.

Tratando-se do uso da preposição a ou da crase – fusão de dois sons idênticos – a segunda é indicada pelo acento grave. Só se pode usar a crase diante de palavras femininas (o artigo definido a, pronomes indefinidos começados por aaquele, aquela e seus plurais).  Um uso mais complexo da crase diante de nomes masculinos só se dá quando a expressão quer significar à maneira de: Filé à Chateaubriand, macarrão à Alfredo, salada à Chef Alexandre.

  • Outro engano, encontrado com certa consistência, é: Daqui dois dias, daqui duas semanas, daqui um ano. As formas corretas dessas expressões são: daqui a dois dias, daqui a duas semanas, daqui a um ano etc. A razão disso é que a expressão quer dizer: de hoje (do momento em que se está falando) até determinado tempo… É como uma medida, neste caso, de tempo. Como dizer: daqui até sua casa são 2 km (a medida tem um limite inicial: daqui, deste momento, e um limite final: a ou até). Exige uma preposição que complete seu sentido correto.
  • Outro exemplo, ultimamente muito usado, de forma errada de falar é – talvez por um mal adquirido hábito – por exemplo: O Governador do Estado, ele nomeou 5 pessoas para… A política brasileira, ela contempla… Aí, se criam duas situações pouco habituais na língua: usam-se dois sujeitos na mesma oração, estilo nunca usado na língua, o que provoca a necessidade de um anacoluto -figura de estilo em que a redação é feita de tal forma que deixa uma palavra ou um termo solto na oração, o que tampouco era um estilo usado pela língua.

O correto é dizer: O Governador do Estado nomeou 5 pessoas para…, o que evita esses “exotismos” de linguagem. Mas, essa nova forma é atualmente usada com muita frequência, principalmente na linguagem política, administrativa, pública, jornalística e outras; aliás, não estaremos errados se dissermos que tem um uso generalizado (“a moda da linguagem”).

  • Uma outra forma errada de usar o que aprendemos desde o ensino fundamental é conjugar os verbos em outra pessoa: fostes, fizestes, dissestes, ouvistes, amastes, partistes. Essa forma pertence, por direito, à segunda pessoa do plural – vós – há muito esquecida e relegada ao ostracismo por nossa língua brasileira, tão rica de informalidade, praticidade e inovações, usos que essa pessoa do verbo impede.

Quando preferimos usar a segunda pessoa do singular – tu – também meio abandonada em quase todo o Brasil – devido à relativa complexidade de sua conjugação certa – e substituída quase de modo geral, na geografia do país – por você, de conjugação muito mais prática, a forma correta é foste, fizeste, disseste, ouviste, amaste, partiste (sem o s final, que é indicativo dessa mesma pessoa, no plural – vós -, como já mencionamos).

Acho que quase todo mundo concorda em que pega mal falar errado, não é? Ninguém precisa ser erudito, usando palavras esotéricas (do domínio e uso de poucos), mas falar certo a própria língua é uma obrigação de todo cidadão “de bem”. Eu, na verdade, até desculpo aqueles que não tiveram a chance que muitos de nós tivemos, de alisar os bancos da escola, seja que nível escolar tenhamos frequentado. Claro que, em vez de achar graça dos nossos irmãos que não sabem, devemos tratar de ensiná-los, para que saiam da cegueira de quem não tem nem a instrução mínima: saber ler e escrever. 

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