Laís Viegas de Valenzuela

Um almoço de sucesso

agosto 28, 2023 | by ipsislitteris.com

Only good times when they get together. a family eating lunch together outdoors.

É curioso como, às vezes, a atitude da gente em relação a outra pessoa influencia a atitude dela com respeito a nós: ontem, veio almoçar em nossa casa, convidada pelo irmão – que é o meu marido – a minha cunhada, de quem já falei algumas vezes. Eu já tinha me disposto a fazer um sacrifício: aceitá-la e não revidar a seus desplantes de sabedoria, conhecimento e cultura, preconceito, qualidade e superioridade etc. (não sei de onde ela tira essa conclusão), e assim fiz. Deste modo, ela não me pareceu tão intolerável como de costume (acho que ela também deve haver-se disposto a me aguentar – dado que as nossas aversões devem ser recíprocas). Até lhe dei um presentinho, pelo seu aniversário, que foi no mês passado; ainda não nos havíamos visto desde então. Dei para ela um batonzinho coral, de cor bem bonita, que me mandaram quando fiz algum pedido de cosméticos, mas era igualzinho de cor a um que já tenho, então resolvi dá-lo a ela. Parece que ela gostou muito, pois foi ao espelho e se pintou com ele. O meu marido lhe deu uma garrafa de vinho, que ela também adora. Então, a reunião até transcorreu numa tranquilidade espantosa, em um clima de muita paz e sem nenhum incidente. Depois do almoço, por sugestão do meu marido, fui jogar com ela – num “tête à tête”- um jogo interessante que temos, e no qual ela é quase viciada. Ainda no jogo, ela mostrou uma de suas características que são a razão do meu desagradado e da minha incompatibilidade com ela: a de não assumir o que faz ou o que lhe acontece, e atribuir sempre aos outros a responsabilidade ou culpa do mal de que é “vítima”: afirmou que tinha perdido no jogo – apesar de ter podido completar a série que tem a maior pontuação do mesmo – porque eu interrompi o seu caminho; mas, eu também lhe apontei um caminho que ela me havia interrompido, então ficamos quites. Tudo isso foi dito em um clima de gente civilizada, sem nenhum desentendimento. Mas, cada vez mais eu me convenço de que ela é mesmo quase insuportável. Tratei de comportar-me como se não a detestasse, porque fico com pena do meu marido, que sabe disso, mas também sente certos deveres para com a irmã, que neste dia estava sozinha em casa (ela é divorciada: acho que o marido literalmente não a aguentou), porque a outra irmã, que vive com ela, viajou por alguns dias com o marido. Dessa vez eu não rosnei, como costumo fazer (eu também devo ser “um osso duro de roer”, que o meu marido aguenta). Meu marido e eu temos uma relação longa, de quase 40 anos, mas nos amamos, não nos aborrecemos um do outro, nos admiramos mutuamente e pouco brigamos; temos alguns desentendimentos (não somos iguais, portanto pensamos diferentemente), até fortes, mas isso não chega a atingir o afeto que sentimos um pelo outro. Somos meio insuportáveis, temos as nossas características meio detestáveis, mas no nosso caso parece que a relação é tão intensa e tão sólida que não se vê afetada por essas diferenças. Acho que nossos traços abomináveis não são do tipo que perturba o bom relacionamento que temos. Além disso, sentimos muita admiração um pelo outro, o que é indispensável em qualquer relacionamento amoroso, penso eu. Enfim, posso dizer que foi um verdadeiro sucesso o nosso almoço de ontem, que se prognosticava tão difícil! Acho que, na medida do possível, vou tratá-la como se ela fosse para mim uma pessoa “normal”; sei que, se eu conseguir isso, vai agradar também ao meu marido. Não é que ele a queira tanto: eles são muito diferentes e chocam em suas opiniões e comportamentos. Ele é uma pessoa difícil, de caráter forte, mas é muito racional e justo, então é por isso que eu o adoro e me dou tão bem com ele! 

Mas, enfim, o almoço transcorreu num clima de muita paz (como uma trégua – onde ficam suspensas todas as hostilidades!) e harmonia. Mas isso sempre exige um forte exercício de compreensão e tolerância, que não é o exatamente o meu forte, por isso não sei se sempre estarei disposta a empregar sempre a paciência e a tolerância. Vou ter que guardar minhas unhas afiadas para outra oportunidade, que exija mais essas armas!

RELATED POSTS

View all

view all