Laís Viegas de Valenzuela

A felicidade clandestina

setembro 15, 2024 | by ipsislitteris.com

Que coisa maravilhosa essa crônica da Clarice Lispector, sobre o livro de Monteiro Lobato e a maldade/sadismo dessa menina feia, gorda, baixa e peituda, que necessitou a interferência da mãe para simplesmente emprestar à sua colega Clarice o livro tão ansiado por ela, que aquela menina feia nem lia! Parece que não lia mesmo nada! A mencionada obra era o nosso livro predileto, quando éramos pequenos, de todos os quatro irmãos: “Reinações de Narizinho”, escrito pelo brasileiro, de literatura infantil e outras, José Bento Renato Monteiro Lobato. Tão apaixonados éramos por esse livro que ele não chegava para quem queria. Em todos os momentos (exceto em horas de aulas), cada um de nós o estava lendo, a tal ponto de a mamãe, ao chamar-nos para o almoço, dizer: “Larguem um momentinho essa “vida de Santa Engrácia!”, para poderem vir almoçar!”. Acho que a Santa Engrácia teve uma vida tão atribulada e complicada, que os seus biógrafos ou historiadores a contavam com todos os detalhes, o que tornava sua biografia tão extensa (o que a mamãe queria dizer era que parecia ser uma história que nunca acabava, era comprida demais!).

Agradeço, daqui da terra, de todo o meu coração, à Clarice (lá no céu) por haver conseguido despertar em mim tantas boas lembranças já adormecidas de uma infância ótima, feliz e bem vivida, em companhia do Pedrinho e da Narizinho (que compõem a obra “A menina do nariz arrebitado”), com a tia Nastácia, Dona Benta, a boneca Emília e o Visconde de Sabugosa (um personagem feito de sabugo de milho, com as roupas elaboradas com as palhas desse grão), que também integravam o belo livro “Reinações de Narizinho”. Sei que já não há possibilidade de agradecer pessoalmente à escritora, que já não desfruta do nosso convívio. Obrigada também à Luísa Dias Gutiérrez por haver publicado (certamente traduzida (ao espanhol), dado que a escritora era brasileira e escrevia em português), dando-me assim a oportunidade de ler esses escritos da Clarice, que tanta alegria me trouxeram. Meu agradecimento final ao Monteiro Lobato, embora já não esteja presente entre nós, que enriqueceu a literatura e a cultura brasileiras, assim como a de todos os povos que porventura tenham ou já tiveram a felicidade de ler alguns dos seus ótimos livros!   

RELATED POSTS

View all

view all