Laís Viegas de Valenzuela

Esperança

outubro 1, 2024 | by ipsislitteris.com

inda não consegui me curar desta mania, ou esquecimento, de escrever e deixar as palavras no computador, esperando sua vez de serem publicadas. Estas já têm mais de um ano de espera!

Tenho a esperança de que o novo presidente consiga, com a gente que ele tiver o talento de escolher, reerguer o Brasil, fazê-lo crescer economicamente, abrindo suas portas ao investimento externo e ao comércio exterior, melhorando ainda mais as condições já desenvolvidas da agricultura, combatendo a insegurança que manda e desmanda no nosso país, fazendo desaparecer ou reduzir a níveis ínfimos a corrupção, canalizando o dinheiro público para onde deve ser dirigido, como para a educação e a saúde dos brasileiros (que ingenuidade!), saneamento básico aí contemplado, fortalecendo a nossa justiça, anulando a desigualdade indignante que existe aos borbotões, combatendo a fome e a miséria que tanto afeta a nossa gente, isto penso eu!

Enfim, talvez eu espere mais do que é possível receber, mas pelo menos noto que acabou o meu forte receio de que fôssemos cair no mesmo poço sem fundo da Venezuela ou no autoritarismo do Presidente Trump, no desespero da América Central e da África, assim como na brutalidade e extermínio da Síria, do Afeganistão, no extremismo cultural da Arábia Saudita e outras desgraças mundiais. Ainda esiou “pagando pra ver” a maneira de governar o nosso complexo país, mais complicado ainda pelas crises de toda natureza que o assolam. Acredito na capacidade, na inteligência, nas pessoas bem intencionadas que estão sendo chamadas a ajudar e governar junto com ele, nos propósitos declarados de servir bem, de limpar o nosso país e livrá-lo das condutas indesejáveis anteriores.

Mas, sinto que muita gente brasileira – que nunca pode dar o braço a torcer e reconhecer alguma coisa certa de um novo governo – ou procura as menores falhas ou deslizes para reafirmar sua posição tão aferrada como já fez, ou só aceita coisas que estiverem de acordo com a sua ideologia, o que serve de pretexto para condenar – não é nem criticar – qualquer ente que chegue à presidência do país. Espero que já não sejam várias cabeças da família a governar essa pátria, já tão desgastada, que está precisando é de alguém para curá-la, como se a sua doença fosse quase incurável. Acho que as críticas e censuras são demasiado ideológicas, contra quem não é “da mesma ponta”. Acho assim: já que não podemos fazer muita coisa contra uma pessoa que será a maior autoridade do país, que vai contar com o poder público, que lhe será conferido pelos votantes, então por que não nos dispomos a ajudar o país – seja qual for o presidente – a se levantar, colaborando com o próprio trabalho e a própria capacidade para melhorar as coisas, e não se pôr com o microscópio a procurar picuinhas para acusar quem não for da nossa escolha, seja do que for? Cada um pode continuar com suas ideias e pensamentos – mas se colocar menos em uma posição de inimigo daquele em quem não se votou e acabar se tornando inimigo do país em que nasceu. Para mim é muito difícil – porque estou fora – julgar, para bem e para mal, um governante, sem saber nos mínimos detalhes o que ele fez ou deixou de fazer, então posso estar redondamente enganada. Por outro lado, ainda bem que só faltam meses para que o nosso atual presidente deixe o governo, e espero que ele não ganhe as eleições, mas não sei ainda como votar: a minha ideologia não é tão densa, a ponto de recusar tudo que não pertencer a ela.

Mas, a polaridade ideológica reinante é tão forte que ninguém pode – ou não quer – ajudar uma pessoa que não professa o mesmo grupo de ideias, cada um fica na sua e é incapaz de esquecer por um instante a sua ideologia e dar um pouco do seu saber, sua experiência e competência para ajudar, não ao país, mas àquele que estiver de acordo com os seus requisitos.

Tenho muita pena é do estado em que se encontram os meus irmãos brasileiros; como brasileira que também sou, eu queria ver o Brasil cheio de gente alegre, sadia, bem alimentada, bem vestida, com um emprego que lhe permitisse satisfazer, pelo menos, as suas necessidades básicas.

Parece que o grau mais baixo de desânimo da gente é traduzido na desesperança, que quando se perde arrasta tudo com ela; comigo isto não acontece nem nunca sucedeu. A minha esperança de ver esse gigante se levantar do berço esplêndido e voltar a ser o país pujante e florescente que já foi um dia ainda está viva, e penso agora que necessita mãos e cabeças muito efetivas, honestas, imparciais e dedicadas – que pensem mais no país que em proveito próprio, para conseguir isso.

Como não publiquei, desde então vários cenários indesejáveis já se revelaram, então vou expressar minhas opiniões com um pouco mais de precisão: agora já estou meio desesperada. Só não entendo bem a posição ideológica “de direita” ou “de esquerda”. Esta (ser de esquerda) indicaria pertencer a uma casta superior a todas as demais? Como eu não sou de nenhuma, e detesto rotulação, me sinto mais à vontade pra falar como penso, e parece que essa ignorância me permite – mais do que aos doutos – abrir a boca e dizer o que sinto, mesmo com essa deficiente informação que posso captar sobre a situação do nosso país. Não é irresponsabilidade, não, acho que é ignorância mesmo. Meu quase único canal de informação é a Globo Internacional (que é a que chega a outros países), que uma grande amiga me disse que só publica mentiras, e também dizem “ser comprada”, “entreguista”, “parcial”, esse tipo de rótulos. Então, em quem confiar ou acreditar? Eu, na minha ingenuidade, de acreditar em todo mundo, continuo pensando que os jornalistas da Globo (Natuzza Néri, Eliane Cantanhede, Julia Duailibi, Mônica Valdvogel, Maria Flor, Marcelo Lins, Guga Chacra, Jorge Pontual, Camarotti, Flávia – a Flavinha), são sérios, responsáveis, analistas, comprometidos com a verdade, isentos, até porque não sei mesmo a procedência das fake news e das true news. Estou preocupada com o país, porque parece que aquelas pessoas “de esquerda”, que constituem a classe intelectual e culturalmente privilegiada, já não se preocupam com os destinos da pátria, embora continuem a criticar esse governo tão desastroso! Eu pensaria que uma posição mais conveniente e ativa seria canalizar essas capacidades e energias tão importantes (a dos intelectuais), para destiná-las a tentar reconstruir, reerguer o país, trabalhando por e não contra o Brasil, mesmo que no intuito de alvejar indiretamente o seu presidente. O país já está tão atingido que não precisa mais dos maus desejos dos filhos deste solo para despencar cada vez mais; ao contrário, precisa é dos seus bons augúrios e fluidos. Minha “estratégia” é, mesmo de longe, procurar mostrar, nas coisas que escrevo, ou nas mensagens que recebo sobre os sucessos do Brasil, em qualquer campo (esporte, ciência, educação, prêmios recebidos fora do país ou dentro dele), as coisas boas do Brasil (que a gente não precisa nem procurar, estão aí para quem quiser ver), os gestos solidários ou caridosos das pessoas para com seus irmãos de pátria, que ainda temos motivo para nos orgulharmos da nossa gente, que não só há coisas ruins, sofrimento e discriminação, mas também solidariedade, empatia, compaixão, desprendimento e vontade de ajudar. Convoco aqueles brasileiros amigos do país a se unirem, sem uma férrea posição ideológica, a ajudarem, em vez de só criticarem, a consertar o nosso país, agora ferido em todos os seus flancos, a curar-se de tudo que tem passado nesses últimos e intermináveis meses. Para mim, é terrível ver só de longe, sem saber decidir-se por quais das posições tão desencontradas que cada pessoa ou grupo revela! Talvez a minha tentativa represente muito pouco, mas é ditada pela intenção de dissipar a tristeza de que os nossos irmãos estão carregados. Há muita dor real, mas também muito pessimismo, desânimo provocado pela escassez de dinheiro, que é uma coisa tão material, tão externa á gente. Em certos níveis de penúria, o dinheiro é indispensável, para garantir a sobrevivência, muita fome sem razão, muita miséria para ser carregada nos braços dos mais vulneráveis. Por outro lado, há muita vaidade injustificada, muita queixa descabida, esgrimindo o ilógico e tolo argumento de “não poder comprar um vestido novo para ir a uma festa”, literal ou metaforicamente, o que é “chorar de barriga cheia” e não reconhecer o que a vida nos dá de tão valioso, que não é comprável com o vil metal. Acho que a preocupação da gente devia ser com o soerguimento do Brasil, deixando os desejos pessoais mais bem abaixo do bem estar coletivo!           

Também já quero ver alguma luz no fim desse túnel de desgraças! Que é como eu vejo agora o meu pobre país rico (alguns indicadores da minha afirmação: um rebanho bovino maior do que a população; uma produção agrícola a cada ano mais superavitária do que a anterior; qualquer cantor, por menos famoso que seja, é proprietário de um avião; e outros). Essa pandemia só serviu para reforçar e revelar todo o infortúnio que estamos sofrendo. Não sei bem como anda a classe alta – não pertenço a ela – e não sei se está completamente alienada com respeito aos problemas que assolam o país: a inflação, que só se ouve por toda parte: nos combustíveis, na energia elétrica, nos produtos alimentícios, que afetam diretamente toda a população, mas de maneira mais cruel os pobres, cujo escasso dinheiro é consumido em grande proporção na deficiente e insuficiente alimentação que podem adquirir! (Diz o atual presidente que, há alguns meses, só tem havido deflação). O encarecimento de tudo afeta de modo mais cruel aos mais pobres, embora todo mundo – pobres e ricos – reclamem desses aumentos astronômicos.  

Deposito toda a minha esperança no próximo presidente que for eleito, embora não alimente expectativas, caso se repita o mesmo que já estava. Não tenho ilusões de que nenhum dos eleitos vá fazer milagres: se o Bolsonaro ganhar, vai ser uma dose cavalar de tudo do mesmo, e se o Lula vencer, terá muita dificuldade de governar um país dessas dimensões, com quase todo o Congresso a favor do outro lado. Só espero – o que é quase esperar “que Paris se torne a capital da Inglaterra” (como a menininha que rezava para isso, devido a tê-lo respondido na prova) – que o portador dos louros da vitória já tenha saciado a sua sede de poder e veja o Brasil como a sua principal preocupação: que governe com honestidade, sem finalidades lucrativas, lembrando dos seus irmãos cujo sonho atual é poder contar com um prato de comida na mesa para si e sua família, saúde para todos os seus e um trabalho digno para o chefe da família, a fim de não depender apenas da caridade alheia ou da boa vontade das pessoas mais generosas, e possa garantir a sua manutenção e a daqueles que vivem sob os seus cuidados e dependência.

Vamos, Brasil, a um novo destino, mais condescendente para com os pobres – que já são muitos neste rico país – cuja única, ou apenas imediata, aspiração é poderem comprar um prato de comida para alimentar os seus famintos filhos e o resto da família, igualmente ávida só mesmo por alimentação!

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