Uma das coisas que mais me incomodam neste mundo – eu ia dizer reino, mas já é dizer demais – da aparência e da fachada é ter que ser uma pessoa sempre politicamente correta, dizer sempre as palavras que os outros querem ouvir, sentir-me na obrigação de achar tudo e todos (lugares, pessoas e coisas, comidas, passeios) fabulosos, esplêndidos, maravilhosos e “hermosos”! Mas, eu não procedo assim: não posso ser hipócrita!
Sou tão despreocupada do sucesso que farei (ou não) em uma próxima oportunidade que termino realçando mais do que a maioria das mulheres (ou, então, é que sou ingênua demais!). E sou muito consciente de que já sou idosa, tenho o cabelo branco, pele branca, mais para magra que para gorda, tenho feições comuns, sem nem um traço de beleza particular.
Não sei apreciar uma coisa só pela nobreza do material de que foi elaborada, porque os meus valores não estão na origem nem na matéria de que estão feitas, nem por serem objeto do aplauso da humanidade, nem por se tratarem de coisas valiosas de preço e material, ao contrário da maioria das pessoas que apreciam as coisas só por estarem elaboradas com materiais caros, mesmo que irritem a pele ou causem dermatites, e têm que ser compradas nas lojas mais caras ou frequentadas da cidade, desenhadas pelos designers mais conceituados ou vendidas pelos fabricantes de maior sucesso, ou usadas pelas pessoas importantes do lugar ou que estejam no último grito da “fashion”. Tenho uma coisa que confessar: meu critério de gostar das coisas é quase sempre estético!
Não sei fazer elogios a coisas de que eu de fato não gosto, podem ter custado o preço mais alto ou terem sido compradas na loja mais badalada de todas, ou que agora estão usando, porque todo mundo usa.
Se vou a alguma reunião, festa, casamento ou qualquer outro acontecimento, sempre tenho no guarda-roupa um vestido que considero adequado, dos meus mais velhos, porque nunca me sinto obrigada a comprar um vestido novo para comparecer a cada evento. Quando vou a alguma dessas festas, algumas pessoas da minha família (política – que assim se denominam os irmãos ou pais do marido ou da mulher) me perguntam: “já compraste teu vestido para ir ao acontecimento tal?” Eu sempre respondo que não comprei, porque nunca, ou só raramente, compro um vestido para determinada ocasião, e tenho até pena de banir os meus vestidos ou blusas em perfeito estado de conservação e com aparência de serem novos e em uso, só porque a rigor não se trata de roupa nova, comprada especialmente para aquela oportunidade, ou não pertencem à categoria do que a moda dita.
E, geralmente, chegando lá, me sinto tão confortável quanto alguém que se preparou e se esmerou (e gastou tanto dinheiro, quer tenha ou não) para uma ocasião muito especial, para ser a melhor da oportunidade e despertar os mais altos elogios! É que, na verdade, não me preocupa ser a pessoa de mais sucesso da festa, do casamento ou de qualquer evento do estilo. O que me preenche é estar num lugar agradável, junto com o meu marido, encontrar amigos, simples e amáveis como eu. Então, não entro nunca nessa carreira competitiva de parecer uma pessoa que não sou: ao contrário, gosto sempre de aparentar aquilo que eu sou: feliz, de bom gosto, e adequada ao momento, de braços com a pessoa que escolhi na vida para ser o meu companheiro de sempre, preparado e inteligente como ele é e, principalmente, simples como eu sou!
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